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domingo, 24 de fevereiro de 2013

HISTÓRIA: A INVENCÍVEL ARMADA DE FELIPE II


Em 1588, numa ambiciosa tentativa de converter a maior parte da Europa ao catolicismo e punir a Inglaterra pela pirataria contra suas colônias, o rei Felipe II da Espanha lançou ao mar a mais poderosa esquadra até então reunida, transportando um exército para invadir a Inglaterra.
A batalha que foi travada nas águas do Canal da Mancha decidiu o futuro da Europa e do mundo.

Antecedentes
Na segunda metade do século XVI, a Espanha governada por Felipe II era um estado político-religioso, onde a igreja católica tinha grande peso. Felipe II reinava sobre Portugal (onde consta como Felipe I), Holanda e Bélgica e sobre diversos reinos da Europa, como Córsega, Nápoles, Sardenha, Milão, Catalunha, Mayorca, Galícia, Valência, Canárias, Aragão, Castela e outros.

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Felipe II queria uma Europa católica, conduzida pela Espanha.

Na Espanha e nas nações sob seu domínio, os judeus e protestantes eram perseguidos e as vezes aceitavam até serem “convertidos” ao catolicismo para não morrer nas mãos da Inquisição, uma organização religiosa de repressão que tinha plenos poderes da coroa espanhola e do Vaticano para utilizar os mais bárbaros métodos para conseguir confissões e castigar os não-convertidos, chamados hereges.
Porém, a sua grande rival no domínio dos mares e colônias do mundo, a Inglaterra, era governada por Elizabeth, rainha de orientação protestante que dava refúgio e ajudava aos seguidores desta religião por toda a Europa, notadamente na Holanda, onde havia resistência armada.
Mas a vizinha da Inglaterra, a Escócia, estava sob o reinado da prima de Elizabeth, Mary Stuart, que era católica. Mantinha estreito diálogo com a coroa espanhola e secretamente, planejava alijar Elizabeth do trono da Inglaterra e ocupar seu lugar. Haviam tratados secretos estabelecendo que, após sua morte, a Escócia passaria ao domínio da Espanha. Isto tudo acabaria chegando ao conhecimento de Elizabeth.

Francis Drake
Os navios que transportavam para a Espanha as riquezas e tesouros das colônias do Novo Mundo eram frequentemente alvo dos ataques de piratas e corsários ingleses, o que era motivo de protestos do rei espanhol junto à rainha inglesa. Uma das figuras mais polêmicas desta controvérsia foi Francis Drake, jovem capitão britânico, um dos primeiros a navegar em volta ao mundo. Ele foi enviado pela própria Inglaterra para águas americanas, para atacar e saquear os navios e colônias espanholas. Quando os espanhóis protestaram e apresentaram testemunhos e provas de que ele havia protagonizado os saques, os ingleses agindo politicamente, o responsabilizaram individualmente pelos atos de pirataria e o tornaram proscrito.
Porém, quando ele regressou à Inglaterra com os porões do seu navio abarrotado de ouro dos saques, ganhou imediata anistia, e como a situação com a Espanha havia azedado de vez, foi novamente reconhecido como corsário à serviço da coroa inglesa e acabou recebendo um título de nobreza das mãos da própria Elizabeth, passando a ser citado como Sir Francis Drake e reintegrado à marinha inglesa.

A Morte de Mary Stuart
Enquanto isto, Mary Stuart, rainha da Escócia, enfrentou uma dissidência na sua própria corte e refugiou-se na Inglaterra. Porém, ao chegar, recebeu voz de prisão de sua prima. Foi acusada de conspiração, julgada e decapitada em 8 de fevereiro de 1857.
Isto serviu de pretexto para que seu aliado Felipe II, que já tinha planos de atacar os ingleses, disparasse os preparativos finais para a invasão da Inglaterra.
A Armada
Durante os anos anteriores, havia sido encetado um grande programa de construção de navios. Outros que estavam disponíveis na Espanha e em países sob seu domínio foram reunidos e equipados, inclusive 12 navios portugueses.
Em julho de 1588, foi reunida a esquadra de invasão:
Um total de 130 navios, com 2431 canhões.
Os navios eram:
65 galeões e mercantes adaptados com canhões,
25 cargueiros cheios de cavalos, mulas e provisões,
32 barcos pequenos,
4 galés e
4 galeaças.
A frota transportava 27.500 homens, sendo:
16.000 soldados,
8.000 marujos,
2.000 operários (prisioneiros e escravos) nas galés,
1.500 cavalheiros e outros voluntários.
Esta força naval, mais tarde apelidada ironicamente pelos ingleses The Invincible Armada, começou a partir em 22 de julho de 1588 de La Coruña, costa norte da Espanha, sob o comando de Don Alonso Pérez de Guzman (El Bueno), Duque de Medina-Sidonia, nobre espanhol sem nenhuma experiência naval. Porém, tinha sob suas ordens diversos comandantes experientes e competentes, dentre os quais se sobressaia Don Alonso Martinez de Leiva, talvez o mais hábil capitão naval da Espanha.
Seus navios transportavam, além do pessoal e das armas, todo o apoio logístico necessário para manter uma tropa de 30.000 homens durante pelo menos seis meses. Entre os itens transportados, constavam: 5.000 toneladas de bolacha de marinheiro, 272.000 kg de carne de porco salgada, mais de 150.000 litros de azeite de oliva, e 14.000 barris de vinho.
Além disto, ainda haviam 5.000 pares de calçados e 11.000 pares de sandálias, e material para reparos dos navios e das carroças e equipamentos de apoio transportados.
Acompanhavam as tropas 6 cirurgiões, 6 clínicos, 19 juízes e 50 funcionários administrativos selecionados para estabelecerem as bases do governo na Inglaterra, bem como 146 nobres voluntários, com seus 728 criados. Isso além de180 sacerdotes, como conselheiros espirituais e confessores, que ajudaram a abençoar todos os homens antes do embarque.
Como reserva, para posterior ocupação da Inglaterra, ainda havia na Holanda uma força terrestre sob o comando do Duque de Parma, com aprox. 30.000 soldados. Eles também traziam munições e provisões adicionais.
O Confronto
Por volta do dia 29, a Armada estava finalmente ao largo de Plymouth. Diz a lenda que Francis Drake, que por esta ocasião comandaria as ações da esquadra inglesa, foi avisado de que a força espanhola estava chegando à Inglaterra enquanto jogava uma partida de boliche. Teria enviado seu imediato para o porto para preparar a partida da esquadra e continuado a jogar, declarando: “Podemos terminar nosso jogo!”

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Defeat of the Spanish Armada (Derrota da Armada Espanhola), pintado em 1796 pelo pintor inglês Philip James de Loutherbourg, retrata a batalha travada em 8 de agosto de 1588. Esta obra atualmente encontra-se no National Maritime Museum, da Inglaterra.

A Armada estava a cinquenta milhas de Plymouth. E no decorrer da semana seguinte, os ingleses, sob comando-geral de Lord Charles Howard, travaram dois combates com os espanhóis.
Cabe aqui ressaltar que as diferenças táticas tiveram um papel fundamental no decorrer dos confrontos. Os espanhóis procuravam sempre abordar os inimigos e travar combate direto, visando capturar os seus navios, enquanto os ingleses, que sabiam que este tipo de confronto lhes seria desvantajoso, haviam se preparado para travar a luta a distância, disparando a partir do alcance útil dos seus canhões, e se evadindo ante a aproximação dos navios espanhóis. Conseguiam isto por serem seus barcos mais leves e com mais capacidade de manobra.
Os navios principais e mais bem armados da frota espanhola eram pesados e difíceis de manobrar, com carga total, enquanto os ingleses, apesar de em menor número, eram mais ágeis e sabiam utilizar melhor suas vantagens, comandados por chefes hábeis como Drake, que era o vice-comandante da frota britânica, e Thomas Fleming.
Mas durante esses dois confrontos, apesar de inúmeros acertos, não conseguiram danificar seriamente os grandes barcos de Medina-Sidonia. Os espanhóis, por sua vez, não conseguiram se aproximar o suficiente para abordar os barcos ingleses.
O plano do almirante espanhol previa um encontro para receber munições e provisões das forças do Duque de Parma, em Dunquerque. Mas, os mensageiros enviados não conseguiram contato  e trouxeram a  péssima notícia de que as águas no litoral de Flemish, local previsto para o encontro, eram rasas demais para o calado de seus grandes navios.
Neste impasse, Medina-Sidonia teve que ancorar ao largo de Calais, para reparar seus navios, antes de tentar nova investida.
Os espanhóis sabiam que o engenheiro italiano Giambelli estava trabalhando para os ingleses na preparação de brulotes, barcos incendiários e explosivos que poderiam ser enviados contra sua frota.
Por isto, lançaram sua âncoras presas à bóias, pois caso precisassem sair rapidamente, bastaria cortar as amarras e depois voltar para recuperar as âncoras presas às bóias.
Durante a noite, Howard enviou oito de seus navios mais velhos, despojados de todos os equipamentos, mas carregados com materiais inflamáveis e explosivos, sob o comando dos capitães Young e Prowse, rumo à frota espanhola, aproveitando os ventos e a maré favoráveis, e sob o manto da escuridão. Ao se aproximarem, em rota de colisão, os pilotos e os poucos tripulantes atearam fogo aos barcos, abandonando-os no rumo dos navios ancorados. Isto fez com que os espanhóis cortassem as amarras imediatamente, içando as velas e se espalhando para evitar os brulotes, que começaram a explodir. Nesta confusão, vários navios se abalroaram entre si, causando diversos danos, embora nenhum se incendiasse.
A Batalha de  Gravelines

Ao amanhecer de 8 de agosto, Medina-Sidonia viu parte de sua esquadra dispersa e sob risco de encalhe na costa de Flemish. Destacou então quatro grandes navios para fazer uma linha de defesa, enquanto o restante da esquadra tentava se reagrupar para combater.
Os ingleses atacaram com dois destacamentos, num total de quase 40 navios, sob o comando de Drake, que liderava, e Frobisher.
Outros navios espanhóis vieram em socorro dos seus, mas os ingleses estavam na ofensiva e causaram grandes danos nos navios principais. Três desses grandes navios foram afundados e mais doze seriamente danificados, numa batalha confusa em meio à fumaça. As perdas espanholas neste dia somaram em torno de 600 mortos e 800 feridos.
Pouco antes do anoitecer, Drake abordou e capturou o galeão Rosário com toda a sua equipagem, inclusive o almirante Pedro de Valdez. Este navio carregava elevada quantia para o pagamento dos exércitos do Duque de Parma, na Holanda.
Algumas vulnerabilidades da Armada ficaram visíveis: os mercantes convertidos em vasos de guerra tiveram problemas quando as estruturas começaram a ceder, não suportando os impactos do recuo dos seus próprios canhões. Os vazamentos surgiram, e os carpinteiros trabalhavam até a exaustão para fazer os reparos. Isto desabilitava a artilharia destes navios. Além disso, o improvisado aumento do poder de fogo da Armada não teve uma correspondência no número de artilheiros, fazendo com que soldados manejassem os canhões sem o treinamento adequado, diminuindo a eficácia da artilharia.
Após nove horas de ferrenho combate, a chegada do anoitecer e um temporal com ventos muito fortes interromperam as hostilidades.
E então veio o pior: a ventania empurrou os destroçados navios espanhóis de encontro aos bancos de areia, onde muitos encalharam!
Ao amanhecer, tudo parecia perdido, mas os ingleses estavam sem munição e não atacaram. Os ventos mudaram e ajudaram os navios da Armada a se safarem dos bancos de areia.
O comandante inglês enviou alguns barcos à Inglaterra, com pedidos desesperados por mais munição, porém os espanhóis também estavam na mesma situação e com seus navios muito danificados, alguns com a artilharia inoperante. Com poucos disparos de parte à parte, os espanhóis aproveitaram o vento favorável e forçaram a passagem, arremetendo para o norte através do canal, único caminho disponível.
Os ingleses decidiram não persegui-los além das águas inglesas, pois perceberam que eles já estavam derrotados e seus próprios marujos também estavam esgotados e abatidos por ficar tanto tempo em atividade no mar agitado. A disenteria e o tifo infectavam as suas tripulações.

O Desfecho

Os espanhóis, após um conselho de guerra, resolveram trazer sua armada derrotada de volta à Espanha, contornando as Ilhas Britânicas.
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 Roteiro da Armada Espanhola (clique para ampliar).

Na costa escocesa, conseguiram comprar algumas provisões de barcos de pesca, mas sua situação era de penúria. As mesmas doenças que vitimavam os ingleses também os afetavam. Havia mais de 3.000 doentes a bordo. Diariamente havia mortes. As provisões estavam acabando e a alimentação teve que ser racionada. Os animais de tração a bordo foram abatidos para alimentação, mas a água estava escassa e era de péssima qualidade, provocando intoxicações nos marujos. Alguns navios muito danificados e com vazamentos requeriam constante bombeamento manual de água para não afundarem, o que esgotava ainda mais as tripulações.
Mas o pior ainda estava por vir: ao largo do cabo Wrath, ventos fortíssimos desmancharam a formação da esquadra e mais de trinta navios desgarrados foram jogados de encontro aos recifes da Escócia e da Irlanda, afundando diversos outros no mar. A galeaça napolitana Girona foi um dos barcos que colidiram com os recifes da Irlanda do Norte. Dos seus 1.300 ocupantes, apenas cinco chegaram à terra! Esses e outros que conseguiram chegar à Escócia foram asilados pelo rei James VI, filho de Mary Stuart.

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Esta Cruz de Cavaleiro de Malta foi recuperada dos destroços da galeaça Girona, que bateu nos recifes da Irlanda do Norte em 26 de outubro de 1588. Acredita-se que pertencesse ao capitão do navio, Fabricio Spinola. Atualmente, há habitantes locais que se dedicam exclusivamente à atividade de recuperar objetos e jóias dos navios da Armada naufragados ao longo das costas da Irlanda e da Escócia.
(Foto: National Geographic Magazine) 

Consta que apenas 64 navios conseguiram retornar à Espanha! Mais de 20.000 homens pereceram, a grande maioria em naufrágios causados pelas tempestades. Enquanto isto, as perdas inglesas foram mínimas, apenas um navio, além dos oito incendiados e sacrificados, e menos de 100 mortos.
Felipe II, que pensou lutar numa guerra santa sob a bênção de Deus, contra os hereges ingleses, ficou mortificado ao receber as notícias do insucesso da empreitada e da destruição de sua poderosa Armada.
Dizem que retirou-se para meditação e ficou longo tempo deprimido, sem receber ninguém. Sob o enfoque de sua obstinada fé religiosa, ficava ainda mais difícil aceitar a fragorosa e total derrota, principalmente levando-se em conta que os elementos naturais tiveram papel fundamental na destruição da Invencível Armada.
Na Espanha, correram rumores que o insucesso fora um castigo divino pela conduta devassa do rei, que apesar de devoto, mantinha casos extraconjugais. 
Mais tarde, a esquadra espanhola foi reconstruída parcialmente e ainda naquele mesmo século houveram outras tentativas frustradas de submeter a Inglaterra, antes do declínio do poderio naval luso-espanhol, que  aos poucos perdeu seu lugar para os britânicos.
Mas, para os perseguidos religiosos da Europa, este episódio foi tomado como um sinal claro, mostrando de que lado estava Deus...

Postado por: Maria Auxiliadora O.Benites 

R.A:A82GAA -7 

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